E vamos de dorama para chorar... e se emocionar.
Han Geu Ru e seu pai Han Jung Woo trabalham juntos com limpeza de espaço de pessoas que acabaram de falecer, ou como eles chamam, de limpadores de trauma. O nome da empresa é o nome do drama "Move to Heaven". A cada cliente que eles recebem, eles fazem "a última mudança" daquela pessoa, com todo o respeito e todo o cuidado, tentando através dos seus pertences conhecer a pessoa que acabou de falecer e também decifrar as mensagens deixadas para trás.
Han Geu Ru, tem 20 anos de idade, ele tem uma deficiência mental leve, autismo e também a síndrome de asperger (o mesmo que o Lee Kwang Soo tinha em It's okay that is love). Sua vida e sua rotina são sempre a mesma para não causar estresse, apesar dos diversos diagnósticos Geu Ru, é um adulto bem funcional. Ele ajuda o pai na empresa, cozinha e também limpa.
A vida de Geu Ru muda completamente quando o pai dele morre após um ataque cardíaco em uma rua. Antes de morrer o pai tinha feito um testamento e falado com o advogado para garantir um tutor a Geu Ru. E neste momento conhecemos o seu tio, Jo Sang Koo. Sang Koo precisa em três meses mostrar que é um bom tutor para Geu Ru.
Jo Sang Koo não tem a mínima vontade, e no início condição, de ser tutor do seu sobrinho. Ele guarda mágoas do irmão mais velho, mas decide tentar por três meses, após descobrir que o menino tem dinheiro. Geu Ru precisa agora se adaptar ao seu tio, e Sang Koo precisa conhecer o sobrinho. Apesar da imensa diferença, aos poucos os dois vão se tornando cada vez mais próximos. Sang Koo passa a ajudar o Geu Ru com o trabalho.
Han Geu Ru
Jung Woo no dia que ia encontrar Sang Goo acabou sofrendo um acidente e ficando preso nos escombros do local. No hospital ele acaba conhecendo a sua esposa. Após se recuperar ele decide tornar-se bombeiro. Um dia quando recebeu uma ligação sobre um suposto gato dentro de um bueiro, ele encontra Han Geu Ru, e após conversar com a mulher, eles decidem adotá-lo. Geu Ru sabe que ele é adotado é grato aos seus pais por terem cuidado dele.
Quando o pai dele morre, ele fica triste mas consegue lidar com a perda. Vive a sua rotina e trabalha conforme o pai havia o ensinado. No inicio ele tem dificuldades de lidar com o tio, que é totalmente diferente dele, mas aos poucos eles vão se entendendo.
Jo Sang Goo
Sang Goo é irmão por parte de mãe do Jung Woo. A mãe deles sofria abusos físicos do marido, era violentada. Quando ela morre Jung Woo é expulso de casa. Jung Woo promete que virá buscar Sang Goo, mas ele acaba em um acidente e não consegue comparecer. Sang Goo fica sozinho.
Já adulto Sang Goo se torna lutador, e enquanto passava por uma ponte de noite encontra Soo Chul, um adolescente que estava sendo agredido por outros adolescentes. Após Sang Goo salvar sua vida, Soo Chul torna-se seu aprendiz de luta e melhor amigo. Por armação da dona de um espaço clandestino de lutas, os dois acabam lutando juntos e Sang Goo ao ver o irmão na platéia, acaba ferindo gravemente Soo Chul. Sang Goo vai preso. A partir desse momento sua vida se resume em tentar salvar a vida de Soo Chul.
Quando Soo Chul morre Sang Goo some e decide que nunca mais irá lutar. Porém ele tinha dado os documentos da casa do Geu Ru como forma de garantia para uma luta que ele ia realizar, além de tudo a dona do clube de luta clandestino, sequestra o Geu Ru, obrigando-o a retornar.
Sang Goo descobre que o irmão todos os anos ia até a estação onde eles tinham marcado de se encontrar, quando Geu Ru diz que precisa ir em um local sozinho. No itinerário de Geu Ru, Sang Goo vê os seus pedidos ao irmão no dia do seu aniversário: andar em todos os brinquedos do parque de diversão, comer diferentes tipos de comida. Quando ele retorna para casa ele encontra uma armário contendo diversos tênis da nike, que fora seu ultimo pedido ao irmão antes deles se desencontrarem.
Namu
Ela é vizinha do Geu Ru, eles se conhecem desde a infância. O drama não mostra muito a historia dela, fala que ela largou a faculdade. Mostra um pouco da relação dela com a mãe e o pai, e o resto é ela ajudando o Geu Ru com a Move To Heaven, e a preocupação dela com o Sang Goo ser alguém do "mal".
As historias
A cada novo episódio, o drama trazia a historia de alguma pessoa, e todas as historias trazem críticas sociais importantes.
No primeiro episódio, conhecemos Kim Seon U que é estagiário em uma empresa, e no meio da noite solicitado a ir fazer um trabalho que deveria ser feito por mais de uma pessoa, sozinho. Neste momento ele acaba sofrendo um acidente de trabalho (e como a Coreia não tem SUS, as despesas médicas são altas, e com certeza estagiário não tem plano de saúde), ele acaba indo para casa ferido. Sozinho, sem dinheiro e qualquer apoio da empresa, ele morre com infecção na sua ferida. E para completar, os funcionários da empresa tentam enganar a mãe e o pai dele, por serem surdos, que eles não tem direito algum. E aqui vemos a negligência e a coisificação do ser humano como um mero objeto de produção. E isso reflete muito não só a sociedade coreana, mas a sociedade de forma geral. Porque no final, o que importava era o dinheiro e o nome da empresa, e não a vida e os sonhos daquela pessoa.
No segundo episódio, conhecemos a historia de uma idosa que morava sozinha, e que o filho e a nora só estavam interessados no dinheiro que ela havia deixado. A senhora fora encontrada 21 dias após sua morte, mais um caso em que a pessoa morre sozinha. Após limpar o quarto em que ela habitava, Geu Ru acha dinheiro escondido debaixo do carpete todo sujo, e ao limpar o dinheiro, ele descobre que aquela mãe havia juntado o dinheiro para comprar um terno ao filho, que ela não pode comprar quando ele era mais novo. O filho que só queria saber do dinheiro da mãe acaba se emocionando e trazendo antigas memórias.
No terceiro episódio, a historia é sobre uma professora que fora assassinada em casa, pelo seu namorado, violência de gênero. O caso retrata que fora em legítima defesa, e mais uma vez a sociedade contesta o fato de que homens matam mulheres o tempo inteiro. O drama mostra a vítima denunciando, mas o discurso do opressor sendo mais aceito, até mesmo pela polícia.
O quinto episódio, o caso é sobre um médico que morre ao tentar salvar a enfermeira de uma pessoa em abstinência de opióides. A questão dessa historia é a não aceitação dos pais, do filho que era homossexual, e a pressão para que ele se cassasse e vivesse uma vida "aceitável" socialmente. Geu Ru acha nas coisas desse médico uma carta de amor e um par de alianças, e ele não sossega até entregar para a pessoa. Esse foi um dos episódios mais bonitos e tristes.
No sexto episódio a historia é de um casal de aposentados, que se suicida juntos. A esposa estava doente por muito tempo, e o senhor havia sido demitido do seu serviço após sofrer um acidente. Os dois não tinham família, e por este motivo todo o funeral era realizado pela assistência social. Outro episódio que eu chorei.
O nono episódio fala de Kang Seo Nim, que fora um bebê abandonado em uma estação e que acabou sendo adotado nos Estados Unidos. O episódio fala da dificuldade de crescer nos Estados Unidos, e também chama a atenção ao sofrimento dessas pessoas, em relação a sua identidade pois não são consideradas nem americanas e nem coreanas. Seo Nim fora deportado para a Coreia, e com a ajuda da assistência social, estava tentando encontrar a sua mãe biológica. Ele acaba achando que a sua mãe é uma jornalista famosa, por causa de uma foto com ele quando bebê e uma foto encontrada em um livro sobre a autobiografia dela. Porém ela e a mãe dela faziam parte das casas de passagens para bebês adotados e foi nisso que ela tirou uma foto com o Seo Nim. Seo Nim acaba morrendo sozinho, achando que ela era sua mãe e que a mesma não queria vê-lo. O episódio ainda mostra a jornalista falando que os bebês nascidos antes de 2000 que eram adotados não recebiam a cidadania de nenhum país por causa da negligência e que eles se tornavam apatria.
Representações Sociais
O drama também procurou mostrar as moradias precárias de pessoas em vulnerabilidade social, como a moradia do estagiário, a idosa, o adotado e do casal de idosos. Mostrou as condições de trabalhos exaustivas e precárias dos estagiários, o preconceito com os coreanos-americanos, o abandono de idosos, o preconceito homoafetivo, e a violência contra mulheres. Retratou todas as historias com muita delicadeza e trazendo as verdades, de uma sociedade, de forma geral capitalista.
Achei muito importante que eles trouxeram o Geu Ru, apesar dele ter que ter um tutor, um sujeito muito funcional, que mesmo com as suas limitações e particularidades, conseguiu, graças a criação para o mundo, e também o tratamento como um sujeito com possibilidades de ação e de participação social, muito funcional.
O drama também retratou muito bem a criação de vínculo entre o Geu Ru e o Sang Koo de forma natural, com seus altos e baixos, trazendo a importância da família como rede de apoio. Assim como a presença da Namu, foi fundamental nesta transição.
Achei importante que o drama destacou o papel da assistência social, o que é bem raro nos dramas coreanos (eu me recordo da assistência social, apenas no drama Chidren Of Nobody).
E claro não poderíamos deixar de falar do tema principal do drama: a morte. A morte é um tema que as pessoas não gostam de falar, e é a nossa única certeza. O drama mostrou mortes de pessoas em sua maioria em vulnerabilidade social, mas nos faz refletir muito sobre como estamos vivendo a nossa vida agora, e como estamos nos relacionando com as pessoas. Fora retratada diversos tipos de morte no drama: acidente, assassinato, doença, e suicídio.
O Final
Eu achei genial a forma como o drama mostrou o processo de luto do Geu Ru em relação ao seu pai, e o momento em que ele finalmente consegue fazer a última mudança do pai e então desvendar a mensagem que o pai deixou para ele. Foi bem emocionante.
Outro ponto é que o final pareceu que vai ter continuação. E a borboleta do final me lembrou muito Doom At Your Service (tvN, 2021), dorameiros de plantão vão me entender.
Mensagem do Drama
A morte além de ser um processo natural da vida humana, ela também é um processo social. As pessoas tem planos, sonhos, crenças, ninguém nos prepara para o processo de morrer. Ou então estamos em profundo sofrimento e enxergamos apenas a morte, como a única saída. Para alguns pode ser um processo de evolução, para outros interrupção do existir. O drama mostra as relações familiares, os preconceitos, e o sofrimento que as pessoas carregam com as questões do seu dia a dia, seja elas físicas, emocionais, financeiras ou sociais.
Gostei bastante apesar de ser bem triste. O que mais me comoveu foi o caso do casal de idosos. E o mais dolorido foi o da professora assassinada pelo namorado ,por ser um caso que se não tivessem achado a gravação o cara ia se safar.
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